Literatura

Sincronia

sincronia
imagem: Cassiano Rodka

por Cassiano Rodka

O segurança do Banco Intercostal assobiava a melodia de uma música cujo nome não lembrava enquanto um grupo de assaltantes sincronizava seus relógios para assaltar o banco onde Dona Eulália mantinha uma poupança com o dinheiro ganho na venda de cosméticos da marca que estava sendo usada por sua vizinha que passava o creme para pele oleosa no mesmo ritmo de uma música que tocava no rádio do carro de seu marido que voltava do trabalho no Banco Intercostal onde um segurança procurava lembrar o nome de uma música que assobiava enquanto dois assaltantes arrastavam-se sorrateiramente pelos dutos de ventilação que eram fabricados pela indústria onde o neto de Dona Eulália trabalhava junto com o filho da vizinha que agora penteava seu cabelo no contratempo da música que tocava no rádio de seu marido que estacionava o carro em frente a sua casa e abanava para a vizinha Dona Eulália que olhava pela janela e tentava identificar a música que tocava no carro que era a mesma que era assobiada pelo segurança que ignorava um barulho estranho próximo aos cofres pois concentrava-se em lembrar o nome da música que agora era desligada do rádio do marido da moça que era vizinha de Dona Eulália que reconhecera a canção como sendo uma das preferidas de seu neto que a cantava nos churrascos da família ao violão num ritmo mais lento que a original e que coincidia com o exato movimento lento do caminhar da vizinha que ouvia a porta abrindo e seu marido entrando na mesma hora em que os assaltantes saíam do banco e corriam em direção a um carro que os esperava sintonizado na mesma estação que o do marido da vizinha que agora o recebia com um beijo enquanto Dona Eulália beijava a foto do neto e os assaltantes beijavam o dinheiro e o segurança assobiava a melodia de uma música que – sim, agora ele lembrava – chamava-se “Sincronia”.

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